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Vera Lucia Ferreira Luz
(Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios – RAN / ICMBio)

Como foi o início da sua carreira e quais as principais motivações para trabalhar com os anfíbios?

 

Sou graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás. Atuo desde o início da minha vida profissional em projetos relacionados à conservação e manejo da vida silvestre. Na década de 80 atuei em projetos com primatas e na coordenação de resgate e aproveitamento científico de animais silvestres, provenientes das Usinas Hidrelétricas de Balbina, no Amazonas e a de Samuel, em Rondônia, pelo extinto IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal).

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Com lotação no CENAQUA, (Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia), criado em 1991, pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), participei de grupos de trabalho com quelônios da Amazônia, coordenando projetos e programas de manejo deste grupo, relacionados à criação em cativeiro, e ao monitoramento de sítios reprodutivos das espécies do gênero Podocnemis.

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No ano de 2001, o CENAQUA foi transformado em RAN (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios), aumentando sua abrangência taxonômica para toda herpetofauna brasileira, e, em 2007, passou a ser vinculado ao recém-criado ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), com a divisão do IBAMA.

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Para executar a missão que nos foi delegada dentro das novas atribuições para os anfíbios e outros répteis, foi realizado em 2003, o Primeiro Fórum de discussões em Goiânia sobre as estratégias para conservação e manejo de anfíbios e répteis brasileiros, com a participação de especialistas nos diversos táxons, para definição de um planejamento que apontasse para as demandas emergenciais para conservação da herpetofauna brasileira.

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Desde 2004, os Fóruns foram realizados durante os Congressos Brasileiros de Herpetologia, com o apoio da Sociedade Brasileira de Herpetologia, quando em 2009, foi dado o início ao processo de avaliação do estado de conservação da herpetofauna e definido os recortes para elaboração dos Planos de Ação voltados às espécies ameaçadas de extinção. Um dos resultados mais relevantes que pode ser considerado dessa iniciativa foi o estreitamento da relação entre o RAN e a comunidade científica, no estabelecimento de parcerias, e a definição de se ter metas claras para o direcionamento das ações e pesquisas em curso. Esta troca de informação entre a Academia e os técnicos deste Centro tem sido de vital importância para a manutenção da qualidade dos trabalhos desenvolvidos, convergindo esforços para delinear estratégias de conservação efetivas para os répteis e anfíbios brasileiros.

 

Quais foram as principais conquistas da sua carreira? Qual é o seu trabalho que considera mais importante?

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Atualmente sou analista ambiental do ICMBio e estou desde 2009 como coordenadora do RAN/ICMBio. A Coordenação envolve quatro principais linhas de atuação:  Avaliação do risco de extinção dos répteis e anfíbios, planejamento e execução de ações para conservação, pesquisa e monitoramento e gestão da informação, que contribuem na aplicação de políticas públicas voltadas a conservação e manejo da herpetofauna. Das 116 espécies de répteis e anfíbios ameaçados de extinção, temos 41 anfíbios ameaçados, apontados pela Lista Nacional (Portaria 444/MMA/2014). Posso dizer que 100% de toda herpetofauna ameaçada está contemplada em oito Planos de Ação Nacional, conduzidos pelo RAN no período de 2010 a 2018, trabalho planejado e realizado com a sociedade interessada no compartilhamento de ações para conservação dessas espécies. Considero que meu trabalho mais importante é coordenar um centro especializado, com atuação em todo território brasileiro, convergindo esforços de toda a sociedade científica da herpetologia. Isso para mim torna cada vez mais evidente a importância do RAN em continuar consolidando suas atividades nos diferentes ecossistemas brasileiros e proporcionar a geração e subsequente disponibilização de conhecimentos e informações subsidiando políticas públicas aplicadas à conservação dos répteis e anfíbios do Brasil. 

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Quais foram os principais desafios? Ser mulher fez alguma diferença com relação a eles?

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Como coordenadora do RAN/ICMBio, tenho tido a oportunidade de superar muitos desafios próprios da minha missão institucional, liderar uma equipe de técnicos e pesquisadores, além de conjugar esforços com pesquisadores das diversas instituições brasileiras afins, com o objetivo de promover pesquisas e ações de conservação e manejo da herpetofauna em todo território nacional. A diferença em ser mulher é a capacidade de ser multifuncional: ser profissional, dona de casa, mãe e mulher. Ter maior sensibilidade para lidar com a equipe, contornar conflitos, trabalhar em equipe e buscar soluções.

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Que experiência, dica ou conselho você gostaria de passar para aqueles que estão começando a estudar os anfíbios, principalmente para as mulheres?

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Sinto-me lisonjeada em estar entre as 13 mulheres pesquisadoras brasileiras que trabalham com anfíbios. Receber o Prêmio Bertha Lutz representa o respeito a essa pesquisadora no propósito de abrir espaço e ampliar direitos para as mulheres, tanto na conservação ambiental quanto na política brasileira. Ser lembrada por esse grupo de especialistas em anfíbios representa também a certeza que a nossa luta não tem sido em vão, e simboliza o reconhecimento de um trabalho árduo, compartilhado com a minha equipe do RAN e a parceiros da comunidade científica. Isso aumenta a minha responsabilidade como gestora pública na busca de cada vez mais continuar essa integração, na implementação de ações para promover a conservação da herpetofauna e de seus ambientes. Enfatizo também a minha satisfação em ter no grupo do RAN/ICMBio três mulheres contempladas com o Prêmio Bertha Lutz, pela atuação nos processos relacionados à avaliação do estado de conservação da herpetofauna e à elaboração e implementação de Planos de Ação para os anfíbios ameaçados. Quanto às jovens que tem pretensão em iniciar uma carreira no estudo de anfíbios, digo que essa tarefa vale a pena e é gratificante, por saber que esse grupo animal é bioindicador de qualidade ambiental, onde estando preservados, o homem está respeitando o meio ambiente, por isso a importância em preservá-los.

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Entrevista publicada em Outubro/2018.

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Ir para a próxima entrevista (Vivian Mara Uhlig).

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