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Renata Ibelli Vaz

Doutoranda em Fisiologia na Universidade de São Paulo (USP)

Como foi sua trajetória pessoal para chegar até aqui?

 

Durante o colégio meu interesse sempre foi por Biologia, mas não sabia com o que trabalhar. Entrei na faculdade de Biologia com a intenção de trabalhar com genética, mas após um curso de répteis e anfíbios descobri meu interesse pela Herpetologia. Após realizar dois estágios no Zoológico de São Paulo, decidi participar do Programa de Aprimoramento Profissional. O processo seletivo ocorreu seis meses após a formatura. Neste meio tempo, aprimorei meu inglês, pois sabia que seria importante para minha carreira. Fiz três meses de intercâmbio no Canadá, e foi uma das experiências mais enriquecedoras que tive. Ao mesmo tempo, continuei estudando para o processo seletivo, passando em primeiro lugar na prova teórica. Quando saiu o resultado, foi um dos dias mais felizes da minha vida. Era aquilo que queria! Prometi a mim mesma que todos os dias iria agradecer pela oportunidade. Foram três anos como aprimoranda, sempre me dedicando, estudando e aprendendo. Nunca me acomodei, sempre busquei alçar vôos maiores. Foi assim que decidi estagiar em uma instituição de manejo fora do país. Realizei dois estágios, um no Setor de Herpetologia do Zoológico de Atlanta, e outro no Programa de Conservação de Anfíbios do Jardim Botânico de Atlanta. Eles foram primordiais para consolidar minha carreira no manejo, pesquisa e conservação de anfíbios. Os estágios foram muito enriquecedores, tanto pessoalmente quanto profissionalmente, e após esses estágios decidi investir minha carreira na conservação de anfíbios. Assim surgiu um novo desafio: mestrado. No mestrado amadureci e aprendi muito. Consegui ligar a pesquisa com o manejo e a conservação, que era o meu objetivo de vida. Após o mestrado, ingressei no doutorado com uma maturidade e experiência indescritíveis. Espero poder sempre me aprimorar, aprender e me motivar para poder continuar trabalhando com o que amo e tentar de fato fazer algo para salvar os anfíbios.

 

E sua trajetória profissional?

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Cursei Biologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Durante os quatro anos de graduação, participei de congressos, cursos e estágios. Os cursos mais relevantes foram os de manejo de répteis e anfíbios. Em relação aos estágios, os mais importantes foram aqueles realizados no Parque Ecológico de São Carlos e na Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP), pois descobri meu interesse pelo manejo de animais. Neste estágio na FPZSP decidi qual seria o próximo passo: trabalhar com manejo de répteis e anfíbios e, principalmente, ingressar no Programa de Aprimoramento Profissional dessa instituição. Com determinação e dedicação, atingi o meu objetivo em 2009. Devido a este aprimoramento de três anos, minha carreira se consolidou no manejo de anfíbios. O interesse pela conservação desses animais surgiu através da oportunidade de trabalhar no projeto “Conservação de Ololygon alcatraz". Já o interesse pela pesquisa brotou após realizar estágios em instituições renomadas, como o Zoológico e o Jardim Botânico de Atlanta. Foi então, após estes estágios e com o crescente interesse em trabalhar com conservação de anfíbios, que decidi fazer um mestrado. Em 2013 ingressei no mestrado em fisiologia pela USP, sob orientação do Prof. Carlos Navas. Desenvolvi o projeto ""Efeitos de ambientes artificiais no perfil da comunidade microbiana cutânea de Ololygon alcatraz"". Meus objetivos eram continuar trabalhando com a conservação dessa espécie e aperfeiçoar técnicas de manutenção de anfíbios em cativeiro, a partir de estudos fisiológicos, contribuindo para projetos de conservação ex situ. Em dezembro de 2016, iniciei o doutorado com o projeto "Dinâmica de comunidades microbianas cutâneas de anfíbios da Mata Atlântica". Com este projeto, pretendemos entender melhor sobre a microbiota cutânea de anfíbios na natureza, podendo aplicar tais conhecimentos em projetos de conservação em cativeiro.

 

Conte-nos um pouco sobre as atividades com conservação de anfíbios com as quais você está envolvida.

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A principal atividade de conservação na qual estive e continuo envolvida é no projeto "Conservação de Ololygon alcatraz". Faço parte da equipe desde 2009 e, desde então, participei ativamente da escrita do projeto, de pedidos de grants, do planejamento do projeto, da montagem do laboratório, da coleta de indivíduos, do manejo dos animais, de apresentações em congressos e outros eventos, e de reuniões sobre o plano de manejo da Estação Ecológica Tupinambás (Arquipélago dos Alcatrazes) com o ICMBio. Consegui vincular meu mestrado com este projeto de conservação para responder perguntas visando melhorar o manejo e ajudar na conservação desses animais. Com o projeto de conservação de O. alcatraz conseguimos um grant da Amphibian Ark e a certificação do projeto pela WAZA (World Association of Zoos and Aquariums) e pela ALPZA (Associação Latino-americana de Parques Zoológicos e Aquários). Durante o estágio em Atlanta não estive necessariamente envolvida em projetos de conservação, porém tive a oportunidade de acompanhar a coleta da espécie de salamandra Cryptobranchus alleganiensis, para obtenção de material da pele para investigar presença de Batrachochytrium dendrobatidis e ranavírus. Por fim, minha pesquisa de mestrado e de doutorado são projetos de conservação de anfíbios e estão vinculadas ao projeto temático "Impacto das mudanças climáticas/ambientais sobre a fauna: uma abordagem integrativa".

 

Quais são suas visões de conservação e como você pretende colaborar para torná-las realidade?

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Minha maior pretensão é salvar os anfíbios. Sei que pode parecer utópico, mas se eu conseguir que pelo menos uma pessoa se conscientize sobre a importância dos anfíbios, já será uma conquista. Seja com pesquisa, manejo ou educação, meu objetivo de vida é continuar trabalhando na conservação deles. Com a pesquisa, gostaria de me aperfeiçoar e conseguir responder perguntas sobre a biologia dos animais que possam ser usadas para a conservação dos mesmos. Com o manejo, pretendo aperfeiçoar técnicas e cuidar desses animais que amo para a manutenção de populações saudáveis. Já com a educação, pretendo conscientizar as pessoas, figuras públicas e outros profissionais, da importância desses animais para nosso meio ambiente. Em um futuro próximo, pretendo finalizar o doutorado e realizar um pós-doutorado em conservação de anfíbios e posteriormente voltar a trabalhar em alguma instituição de manejo, pesquisa e educação, como zoológicos, aquários, jardins botânicos ou ONGs, seja no Brasil, ou fora do país. Minha visão em conservação é: precisamos vincular a pesquisa, o manejo e a educação para conservar os anfíbios. Precisamos educar e pesquisar para conservar. Por fim, acredito que eu já contribuo com a conservação por estar vinculada a um projeto de conservação de anfíbios, por fazer pesquisa e por educar as pessoas que estão ao meu redor.

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Entrevista publicada em Outubro/2018.

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Ir para a próxima entrevista (Carolina Lambertini).

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